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Foto do escritorPimenta Rosa

Estudo da Revista Nature mostra as origens da LGBTfobia no Brasil

No artigo intitulado Indigenous bodies, gender and sexuality, os pesquisadores evidenciam as estratégias coloniais utilizadas para exportar da Europa a aversão à diversidade sexual, destacando a rápida implantação deste sistema entre os povos indígenas.



Criminalizada no Brasil desde 2019, a LGBTfobia possui sua origem no país desde as primeiras décadas coloniais. Dito de outro modo, a aversão à diversidade sexual dos padrões de gênero e sexualidade ocidentais faz parte da fundação de nossa nação. É essa a conclusão da pesquisa desenvolvida por Jean Baptista, historiador e docente em Museologia da Universidade Federal de Sergipe, e de Tony Boita, museólogo e gestor do Museu da Diversidade Sexual. O estudo foi publicado na prestigiada revista inglesa Nature, em sua edição dedicada às humanidades .


'De modo geral, a sociedade tende a imaginar que a LGBTfobia é um fenômeno recente na história do Brasil, mas nossos estudos demonstram justamente o contrário, que nossa cultura foi forjada em torno desta aversão desde sua fundação', explica Baptista.



No artigo intitulado Indigenousbodies, genderandsexuality, são evidenciadas as estratégias coloniais utilizadas para exportar da Europa para o Brasil a aversão à diversidade sexual. A principal delas foi a inserção das categorias de gênero e sexualidade entre os povos indígenas.


'Os povos indígenas não tinham conhecimento deste tipo de discriminação, menos ainda a ideia de que pessoas deveriam ser punidas moral ou fisicamente por seu gênero, performance ou práticas sexuais', diz Baptista. Com a chegada dos religiosos e implantação de missões, dá-se justamente o contrário: o nascimento de um sistema onde cada sujeito seria considerado punível em virtude dos usos de seus corpos.


'A implantação da fobia à diversidade sexual entre os indígenas em contato direto com os missionários e demais colonizadores foi um processo incrivelmente rápido, coisa de duas gerações', diz Baptista, 'de modo que as noções de masculino e patriarcado ocidental solaparam a centralidade feminina e as mais diversas expressões até então existentes'.

A rapidez deste processo pode ser explicada pela participação dos próprios indígenas no processo. 'A adesão das lideranças indígenas às categorias de gênero e sexualidade do Ocidente não era apenas uma saída ideológica ou uma concordância direta com seus conteúdos, mas, sim, muito mais uma estratégia de sobrevivência dentre a estreita margem de manobra que possuíam'. Ou seja, para ingressarem no mundo colonial com uma segurança possível, as lideranças indígenas logo perceberam a necessidade de aderirem às categorias de gênero e sexualidade ocidental.


'O que vemos, portanto, é que pouco mais de trinta anos desde o início da evangelização por parte dos jesuítas, as sociedades indígenas deixam de ter mulheres em sua liderança, bem como elas passam a ser vítimas de agressões físicas perpetradas pelos homens'. Além disso, 'neste mesmo tempo corpos considerados desviados dos padrões de gênero e sexualidade ocidentais passam a ser punidos por meio de diversas estratégias, como prisões, humilhações e espancamentos (inclusive em praça pública), entre outras formas de violência'.


'Somos uma nação que nasceu marcada pela ideia de que as pessoas sexualmente dissidentes da moralidade católica deveriam ser punidas de modo mais humilhantes possível', completa Baptista, 'e desde então nosso país tem feito jus à tal educação, uma vez que se tornou um dos países que mais mata pessoas LGBTQIA+'.

 

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