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Foto do escritorPimenta Rosa

Jupitter Pimentel, do Rap Plus Size, transforma vivências e desafia normas de gênero e linguagem no hip-hop brasileiro

Em entrevista exclusiva para o Pimenta Rosa, Jupitter Pimentel, que começou no rap aos 12 anos, reflete sobre sua trajetória, suas influências e a luta por representatividade e inclusão no hip-hop. Hoje, uma voz potente na cena, ele destaca a influência da poesia e a necessidade de se expressar, abordando temas como resistência, autoaceitação e identidade de gênero em suas letras.



Jupitter Pimentel, um dos nomes mais influentes do rap brasileiro contemporâneo, começou sua jornada na música ainda aos 12 anos, quando encontrou na poesia das rimas um canal para expressar suas inquietações e questionar as injustiças ao seu redor. Desde então, consolidou uma carreira marcada pelo compromisso social e pela luta por representatividade. Inspirado por grandes nomes como Dina D, Eduardo do Facção Central e Racionais, Jupitter desenvolveu um estilo próprio, reforçado pela parceria com Sara Donato no grupo Rap Plus Size, que aborda temas como autoaceitação e resistência. No álbum A Grandiosa Imersão em Busca do Novo Mundo, Jupitter trabalhou com Djonga e Kamau, explorando questões como racismo e enfrentamento ao Estado. Recentemente, sua autodefinição como “boyceta” ganhou destaque nas redes sociais, expressão que reflete sua identidade de gênero e desafia normas binárias. “Quando me apresento assim, afirmo minha vivência e desafio a norma de gênero binária”, afirma. Além da música, Jupitter luta pela inclusão LGBTQIA+, ensinando sobre linguagem neutra e não binariedade, que considera fundamentais para o avanço social. Com mais de 42 mil seguidores, ele usa as redes sociais para fortalecer a mensagem de resistência e inclusão. No futuro, promete novas músicas e projetos, sempre mantendo a essência de sua trajetória.


Confira agora a íntegra da entrevista ao Pimenta Rosa, onde Jupitter Pimentel reflete sobre suas influências, desafios e conquistas que o tornaram um símbolo de representatividade no cenário musical.


Você começou no rap muito jovem, aos 12 anos, e já participava de batalhas de rima. O que o rap significa para você e como essa jornada começou?

Eu comecei no rap ouvindo música em casa. As rádios, os rappers que eu gostava. Com o tempo, fui conhecendo outras pessoas que curtiam rap também, e comecei a pesquisar sobre. O rap me atraiu pela poesia. Eu sempre gostei de escrever desde pequenininho. Então, o rap era uma forma de me expressar, de trocar ideias com as pessoas, de provar meus pontos, mesmo aos 12 anos. Fui influenciado positivamente a perceber o mundo ao meu redor e a apontar as coisas que não faziam sentido nessa sociedade. Para mim, o rap é isso até hoje: uma forma de transformação. Uma ferramenta muito importante, porque, assim como ele mudou a minha vida, ele pode mudar a de outras pessoas também.


Quais artistas e momentos da cena hip-hop foram essenciais na formação do seu estilo e das suas mensagens?

Mano, lá no começo, não podem faltar referências como Dina D, Eduardo do Facção Central, Racionais e Sabotage. São quatro figuras essenciais para definir minha linguagem no rap e o que eu prego também. Depois, fui seguindo outras vertentes dentro do rap. As minas do rap me influenciaram muito. Fiz parte da Frente Nacional de Mulheres no Hip-Hop e tive o apoio de várias dessas mulheres, como Rúbia do RPW, Sherry Line, entre outras. Coloco essas referências no meu trabalho; é só olhar as músicas do Rap Plus Size e ver os feats que já fizemos, porque ali está a maioria das minhas influências. A própria Sara Donato, que foi uma grande referência pra mim, também se tornou uma amiga, e isso foi muito importante para construirmos o que fizemos juntos.


O Rap Plus Size trouxe temas como autoaceitação e resistência. Como foi criar e consolidar essa dupla?

Foi importante demais. Eu e a Sara já trabalhávamos essas narrativas como artistas solos, e a parceria foi uma junção de forças, foi reconhecer o potencial que tínhamos juntos. Mas, na verdade, a ideia inicial não era formar um grupo de rap, era só um disco, uma collab. Mas vimos tanta força nisso que decidimos consolidar o projeto como um grupo. Desde então, já rodamos o Brasil e ainda tem muito chão pela frente.


O álbum "A Grandiosa Imersão em Busca do Novo Mundo" contou com Djonga e Kamau. Como foi trabalhar com esses artistas e qual a mensagem principal que buscou transmitir?

Como eu disse, são referências para a gente. Djonga, Kamau, Cris SNJ, Mona Brutal, Dana Lisboa… são artistas que fazem um trabalho importante no rap e no hip-hop, e isso tem tudo a ver com a linguagem que quisemos trabalhar nesse disco. Esse álbum traz uma mensagem de aprofundamento nas temáticas que abordamos como militantes de esquerda, de transformação pessoal e de revolução no mundo. Por exemplo, Djonga participa da faixa "Pipeline", onde batemos de frente com o Estado genocida, especialmente a polícia militar, uma instituição extremamente racista. Ter uma voz tão potente como a do Djonga é essencial para confrontar esse sistema. Já Kamau e Cris SNJ aparecem em "Nascente" para falar sobre o hip-hop como uma ferramenta de transformação, que mudou nossas vidas. Recomendo que todos escutem o disco; fizemos até um vídeo explicando faixa a faixa no canal do Rap Plus Size, detalhando o conceito. É um trabalho muito rico e importante.


Recentemente, você causou grande repercussão ao se definir como boyceta e enfrentou ataques. Como vê a importância de expressar sua identidade nas redes?

É uma questão política. Quando digo que sou boyceta, muitos veem como uma gíria, ou como "só mais um termo". Mas, para mim, isso é muito forte, faz parte da minha experiência de gênero. Falar sobre identidade de gênero, principalmente as menos comuns, é trazer narrativas de outras vivências trans. Ao me definir como boyceta, não estou tentando apenas chocar a sociedade; estou me afirmando, trazendo um corpo político, um corpo trans, um corpo com buceta, que desafia a norma de gênero binária. É sobre valorizar minha experiência, minha vivência, e não o que a norma estabelece. É isso.


No álbum “RG”, você fala da sua transição de gênero. Quais desafios enfrentou ao abordar temas tão pessoais e ainda pouco compreendidos?

O desafio foi traduzir em som a sensibilidade das letras. Tecnicamente, as letras de "RG" nem são minhas melhores em rima ou construção, mas são as mais sensíveis que já escrevi. Acho que meu maior desafio foi transmitir essa sensibilidade para o público. Ontem fez dois anos que lançamos o álbum, e ele continua sendo ouvido, o que é muito importante para mim.



Você já lecionou sobre linguagem neutra e não-binariedade. Como a linguagem pode ajudar na inclusão e na valorização das identidades LGBTQIA+?

A linguagem é viva, está sempre mudando, mas muitas pessoas não têm acesso a esse conhecimento. Quando introduzimos a neutralidade em alguns aspectos da língua, oferecemos a possibilidade de inclusão a quem precisa. Ao questionar a predominância do masculino genérico, questionamos também a estrutura patriarcal, sexista e binarista da nossa cultura. Alterar a linguagem é uma forma de incluir nossas vivências e experiências na sociedade.


Na Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo, sua apresentação na campanha "Mais uma Voz" foi bem recebida pelo público. Qual o significado desse evento para você?

Foi incrível! Eu participei ao lado da Pabllo Vittar na Parada do Orgulho, graças à campanha Mais Uma Voz. Fui selecionado para cantar lá e, com 4 milhões de pessoas na plateia, foi muito emocionante. Foi um dos momentos mais altos da minha carreira, e sinto muito orgulho disso.


Com mais de 42 mil seguidores no Instagram, como você enxerga o papel das redes sociais na sua carreira e nas lutas que representa?

Sempre gostei de criar conteúdo e conversar com o público. As redes sociais são uma ferramenta poderosa para disseminar informação — e, infelizmente, também desinformação. Usadas de forma correta, ajudam a divulgar nossa música, nossa mensagem e a conectar com pessoas que acreditam no nosso trabalho. É sobre isso, essa conexão.


Após álbuns como Rap Plus Size, RG, quais são seus próximos passos e o que os fãs podem esperar de Júpiter no futuro?

Os próximos passos são continuar fazendo música. Já tenho algumas coisas prontas, preparadas, e espero lançar algo ainda este ano. Se não, ano que vem vamos chegar com tudo. Tem clipe, tem música, mais disco, muitas letras prontas. Acompanhem e fiquem de olho nas próximas paradas!

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