Morre a diva Elza Soares, 'A Voz do Milênio', defensora da causa negra e LGBTQIA+

Em vários momentos de sua vida a cantora falou de seu trabalho pela voz da mulheres, dos negros e da comunidade LGBTQIA+

A morte silenciou nesta quinta-feira (20/01) uma das vozes brasileiras mais potentes contra o preconceito de cor e gênero. Aos 91 anos a cantora Elza Soares deixou órfãos milhares de pessoas que tinham na sua voz a oportunidade de se tornar visíveis através de sua música e seus questionamentos. O velório acontece no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia, e o corpo seguirá em carreata, numa viatura do Corpo de Bombeiros, pela orla de Copacabana em direção ao cemitério de Sulacap, na Zona Oeste.

Nascida na favela de Moça Bonita, atualmente a Vila Vintém, onde fica a sede da Mocidade Independente de Padre Miguel, sua escola de coração, foi obrigada a casar aos 13 anos, ficando viúva anos depois. Sua relação com o jogador Garrincha, que ela sempre afirmou ser o seu grande amor, marcou sua vida. Como ele era casado e abandonou a família para ficar com Elza, a cantora viveu todas as agruras a seu lado. Da história de Cinderela acabou sendo vítima da violência doméstica quando o jogador se entregou ao alcoolismo. Por coincidência, a partida de Elza Soares acontece no mesmo dia que, há 39 anos, Garrincha também morria.

Apontada como 'A Voz do Milênio' pela BBC de Londres, nos anos 2000, a cantora disse inúmeras vezes que tinha como missão dar voz às minorias.

'Eu me vejo com uma responsabilidade muito grande e quando a gente se engaja numa missão tem de dar conta do recado! Falo pelas mulheres, pelos negros e pelos gays. Então, a minha missão é muito comprida. Acho que é isso que traz a garotada, a juventude para perto da Elza. Uma Elza sem pudor, que está aberta para os grandes problemas', afirmou ao programa 'MPB com Tudo Dentro'.

Sempre à frente de seu tempo, a voz de Elza Soares, que ressoou por cerca de 70 anos, continuará viva e retumbante, pelos direitos e contra o preconceito.