Pesquisa mostra que empresas ainda usam estereótipos em ações voltadas à comunidade LGBTQIA+
Segundo Raphael Dagaz, metade dos entrevistados afirmam que marcas devem evitar os estereótipos e investir em vivência com a comunidade
Por que muitas empresas customizam suas logos no Mês do Orgulho LGBT e, no dia a dia, estão desconexas dos anseios da comunidade? Segundo Raphael Dagaz, CEO da Dagaz Influencer, explica que num país onde mais se mata LGBTQIA+ muitas empresas preferem não se posicionar, ou associam suas logos às cores do arco-íris apenas em junho, temendo algum tipo de retaliação. Acompanhe o pensamento do influencer em seu artigo.
Por que as marcas ainda procuram creators queer apenas no Mês do Orgulho?
Por Raphael Dagaz – CEO da Dagaz Influencer
Marcas precisam investir em vivência com a comunidade, para entender, planejar e criar suas campanhas
Você já deve ter reparado que muitas marcas trocaram as fotos de seus perfis nas redes sociais, incluindo as cores do arco-íris como background de suas logos, certo?
Isso se deve ao fato de estarmos no Mês do Orgulho LGBTQIA+, o mês dedicado à conscientização e amplificação das diversas vozes que compõem a comunidade.
A cada ano, mais marcas têm se sensibilizado com a causa, apoiando a comunidade de diferentes formas: campanhas especiais, ações com influenciadores, patrocínio a eventos…
Por outro lado, ainda existe certo receio no mercado quanto ao tema. No país que mais mata LBGTQIA+, ano após ano, vemos manifestações virtuais contrárias às ações das marcas e, talvez por isso, outras marcas ainda temam se posicionar sobre o assunto.
Mas, sabemos que mudanças sociais significativas são construídas sob ameaças à liberdade há tempos. E é por isso que um dos mais fortes sinônimos para a luta LGBTQIA+ é resistência.
E, se uma parcela desses empreendimentos não se posicionam, há ainda uma parcela de empresas e marcas que praticam o chamado pinkwashing, que é quando uma marca apoia a comunidade quando é conveniente (no mês do orgulho, por exemplo).
Mas temos também marcas que são verdadeiras parceiras da comunidade, que se posicionam e propõem mudanças estruturais em suas organizações, oferecendo novas oportunidades a esses grupos sub representados.
Um exemplo bacana dessa reorganização é o que tem sido feito pela Nike e Puma. A pesquisa Diversidade & Inclusão no Esporte, em parceria com a Nix Diversidade, revelou que 42,8% da comunidade não tem acesso a esportes.
Com os dados em mãos, as marcas se envolveram em várias iniciativas, que apoiam a inclusão e a diversidade nos esportes, além de apoiarem coletivos que prestam suporte à comunidade.
Segundo uma pesquisa da Nielsen, de 2021, a comunidade LGBTQIA+ e seus apoiadores, são a parcela da população que mais consome marcas que levantam a bandeira.
A esta altura, no ano passado, metade dos criadores de conteúdo LGBTQIA+ não havia fechado nenhuma parceria, exceto aqueles que foram contactados pelas marcas para realizarem ações específicas para o mês do orgulho.
A Dagaz Influencer vem chamando a atenção das marcas, trazendo dados de importantes institutos de pesquisa do setor, demonstrando os benefícios por trás de um posicionamento claro quanto a essas questões.
Também falamos constantemente sobre essa discrepância na contratação de creators de grupos sub representados, focadas apenas nas datas especiais, como o Mês do Orgulho e o Mês da Consciência Negra.
Como as marcas devem se organizar?
Se a sua marca não quer para si o estigma do pinkwashing, reavaliar as campanhas e discursos para o restante do ano pode ser uma boa saída.
Se pergunte de que forma a sua marca apoia a comunidade nos demais meses do ano, quais impactos positivos sua marca proporcionou para a comunidade, quantas vezes pessoas LGBTQIA+ aparecem em suas campanhas, fora do mês de junho…
Como agência, ainda temos muito desse trabalho de educar as marcas para desenvolvermos. Muitas vezes, nem as ações do mês de junho com a comunidade foram incluídas no planejamento.
São várias as marcas que chegam de última hora, pedindo job para ontem e isso não é nada saudável para quem está por trás das campanhas de conteúdo.
A pressão em cima dos criadores de conteúdo gera ansiedade e frustração para ambos os lados. É preciso mais planejamento, antecipação e consideração da parte dos contratantes com os creators.
Mas, é só isso?
Claro, apoiar a comunidade, fazer campanha, contratar influenciadores e trocar a logo nas redes sociais é bacana, sim. Mas, essa é só a ponta do iceberg.
As marcas precisam ouvir mais a comunidade, precisam vivê-la, para entender, de fato, os seus anseios.
Outra pesquisa, também da Nielsen, verificou que um em cada cinco pessoas queer entrevistadas, que foram impactadas por publicidade direcionada pela sexualidade, consideram que as marcas erram ao reforçar estereótipos.
A pesquisa obteve dados riquíssimos, que podem ajudar a sua marca a atingir seus objetivos com maior assertividade:
50% dos entrevistados acreditam que as marcas devem evitar estereótipos que envolvam pessoas LGBTQIA+;
44% acredita que as marcas precisam ser mais realistas em suas representações publicitárias em relação à comunidade;
37% acredita que as marcas precisam investir em vivência com a comunidade, para entender, planejar e criar seus anúncios.
Então, a mensagem que fica é: não tenha medo de se posicionar e ser parte da mudança que precisamos. Não deixe a campanha para a última hora, não é legal pressionar os creators. Inclua-os em outras ações, e escute a comunidade. Todes de acordo?
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