Política LGBTQIA+ entrou na pauta das eleições de 2022, mas faltam ações
Ao se assumir gay em rede nacional, o governador do RS, Eduardo Leite, colocou na pauta das eleições de 2022 o tema LGBTQIA+, mas mesmo em seu estado, faltam ações
Por Mario Teixeira
Que a comunidade LGBTQIA+ deveria fazer parte das propostas de políticos há muito tempo, não há o que discutir. Entretanto, apenas com a declaração do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, um dos pré-candidatos do PSDB à Presidência da República, no Programa Conversa com Bial, da TV Globo, em rede nacional, de que é gay, tirou o assunto do 'armário' e jogou luz sobre o tema. A partir de agora, não apenas a 'Esquerda' debaterá questões relativas a direitos LGBTQIA+, mas fará com que partidos de Centro e Direita voltem seus olhos para ações que possam alavancar votos e garantir vitória em 2022.
Essa problemática é bem maior do que parece. A LGBTQIAfobia é estrutural, vem de família, mesmo que muitas digam que não são preconceituosas, que 'possuem até amigos gays'. Mas, quando um menino chora, é chamado de 'viadinho'. Se a criança brinca de bonecas, logo é chamado pelos pais e praticamente obrigado a jogar futebol, 'coisa de macho'. E vice versa, apesar de termos a melhor jogadora de futebol do mundo, premiada pela Fifa várias vezes, e um time que dá orgulho ao país. A escolha dos jovens não é opção, mas imposição de uma sociedade castradora, que vê com olhos discriminadores qualquer ação que não esteja dentro das condições impostas nos últimos séculos.
No caso das eleições, não é diferente. Embora a mãe do ator Paulo Gustavo, Déa Lúcia, tenha declarado seu voto em Eduardo Leite, ele já deixou claro que não busca o voto LGBTQIA+. Sim, não quer o voto apenas por ser gay, mas por suas propostas. E, nesse momento, ele dá um passo atrás. Entidades representativas da comunidade LGBTQIA+ no estado governado por Eduardo Leite reclamam de falta de medidas de respeito e acolhimento.
O diretor operacional da ONG Somos, Gabriel Galli, de Porto Alegre, que realiza ações em direitos humanos, focada nos direitos sexuais e reprodutivos da comunidade LGBT, ressaltou que a declaração de Leite é importante, mas que representatividade apenas não basta. A grande questão para a população LGBT, frisou, é o combate à discriminação e à miséria. Ou seja, em casa de ferreiro, o espeto é de pau. No RS, as políticas públicas para a comunidade LGBTQIA+ são insuficientes, não atendem às necessidades mais urgentes e são tomadas apenas após muita pressão social. Algumas foram assinadas apenas após o governador se assumir, afirmou Galli.
Embora ainda em número ínfimo no universo político nacional, a eleição de cerca de 30 travestis e transexuais nas últimas eleições faz com que a comunidade pudesse vislumbrar um futuro de mais conquistas. Por enquanto, o objetivo mais imediato é combater o alto índice de mortes de gays, lésbicas e transexuais no país. Infelizmente, o Brasil lidera esse ranking mundial e precisa de muito trabalho para mostrar que há respeito e atenção a todos os brasileiros, sem distinção. Hoje, lamentavelmente, há um Brasil para aqueles que são 'mais brasileiros' e outro onde a miséria, a discriminação e a morte impera. A participação de mais candidatos ligados à causa nas discussões políticas e na busca de legenda para as eleições pode ser um primeiro caminho.
Para o presidente da Diversidade Democrata, Bruno Alves, é fundamental, para que as políticas públicas sejam efetivas, a participação dos indivíduos diretamente ligados à essas pautas nos espaços de poder e tomada de decisão.
'Da mesma forma é importante compreender o papel que a representatividade tem na vida dessas pessoas. Nós que fazemos parte de grupos minoritários precisamos ter cada vez mais exemplos, seja na política, no jornalismo, no entretenimento, no esporte, porque durante a vida a todo momento é nos dito que não somos capazes. Isso não é verdade, mas fragiliza e dilacera muitos sonhos que poderiam ter se tornado reais', disse Alves.
Reverter essa situação é questão de educação, respeito e empatia. Imagina se a realidade fosse outra e os heterossexuais fossem os caçados, espancados e mortos, apenas por sua decisão? Colocar-se no lugar do outro pode ser um passo importante para mudar essa triste realidade. E, assim como no dia a dia, na política também é preciso ter empatia e trabalhar por ações que possam deixar nosso país mais igualitário entre todos. Heterossexuais ou gays, todos somos brasileiros!
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