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Foto do escritorPimenta Rosa

Trajetória do movimento trans no Brasil: lutas, conquistas e desafios

Em entrevista exclusiva, Jovanna Baby oferece um olhar profundo sobre a evolução e os desafios do movimento trans no Brasil.  Ela reconhece que as conquistas são muitas, mas ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar a verdadeira igualdade e representatividade.



O movimento trans no Brasil tem uma história rica e complexa que remonta aos anos 1970. Com o surgimento da Associação Damas da Noite em Vitória, Espírito Santo, e a formação da Associação de Travesti e Liberados - ASTRAL no Rio de Janeiro em 1992, a luta por direitos e reconhecimento se intensificou. Para discutir essa trajetória e os desafios atuais, o Pimenta Rosa conversou com Jovanna Cardoso da Silva, mais conhecida como Jovanna Baby. Uma das figuras mais emblemáticas do movimento trans no Brasil, com uma trajetória marcada por lutas e conquistas, há décadas enfrenta a transfobia e o racismo para garantir direitos e dignidade para a população trans e travesti do país. Sua experiência e perspectiva lançam luz sobre a história e os desafios do movimento trans no Brasil.

Veja, agora, a íntegra da entrevista:

 

Como você vê a trajetória do movimento trans no Brasil desde os anos 1970 até hoje?

A trajetória é bem ampla e está aquém do que almejamos nos anos 70. Apesar das conquistas, como o direito ao nome civil diretamente no cartório e a política de saúde para pessoas trans do SUS, o movimento sofreu usurpação para o bem particular de algumas pessoas. Hoje, o movimento trans no Brasil está embranquecido, elitizado, academicista. As travestis e mulheres trans que vivem da prostituição não têm representatividade nos espaços de decisão, infelizmente. O que desejávamos era a organização política e erradicação da violência, algo que não foi possível. Conquistas como o nome civil e o atendimento de saúde decente pelo SUS são grandes vitórias. No entanto, a decisão do movimento não é democrática como antes, onde as travestis de todo o Brasil decidiam as pautas.



Poderia compartilhar suas memórias da 1ª Marcha Trans?

A primeira marcha trans aconteceu em 1995, no Rio de Janeiro, saindo da Candelária em direção à Cinelândia, com uma passagem pelo quartel-general da polícia militar na Evaristo da Veiga. Fizemos um protesto gigante, audacioso, denunciando a violência policial contra a população de travestis, especialmente na Baixada Fluminense. O objetivo era denunciar a violência policial, nosso maior problema na época. Foi a primeira vez que um segmento social da sigla LGBT foi às ruas em forma de marcha.

 

O que é o Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros - FONATRANS e como busca combater o racismo e a transfobia, especialmente considerando a representatividade das pessoas trans negras?

O FONATRANS combate o transracismo e o racismo ambiental. Discutimos e mitigamos os efeitos do transracismo ambiental, promovendo a garantia do direito à cidade para a população trans negra. Corpos trans pretos enfrentam preconceito mais aguçado e latente. Nossa proposta é fazer do Brasil um país escurecido, onde os corpos trans pretos, que iniciaram a luta LGBT no Brasil, não sejam deixados à margem.

 

Na sua visão, o que ainda é fundamental para avançarmos em direitos para a comunidade trans no Brasil? Quais são os principais desafios enfrentados atualmente, especialmente em relação ao mercado de trabalho e à participação em espaços de poder?

Um dos maiores problemas é o patriarcado, inclusive dentro do próprio movimento LGBT, dominado por homens brancos. Essas instituições deveriam escutar quem está na ponta sofrendo perseguições. As pessoas trans pretas não têm acesso a recursos ou espaços de poder. Os corpos trans que vemos na mídia não representam a realidade das travestis brasileiras, 90% das quais vivem da prostituição. Precisamos de um movimento onde todas as pessoas tenham oportunidades, e onde a ancestralidade e a divisão de poder sejam respeitadas.

 

Quais são seus planos e expectativas para o futuro, tanto para sua atuação como ativista quanto para o movimento trans em geral?

Em 2025, já conquisto o direito da aposentadoria a partir do reconhecimento judicial. Quem nasce ativista jamais deixará de ser. Continuarei na ativa como ativista. Quero lutar para que os corpos marginalizados tenham direito a um espaço ao sol. Pretendo continuar resistindo e lutando, mesmo enfrentando o patriarcado dentro do próprio movimento trans. A luta é por um movimento mais democrático, onde o poder não esteja concentrado nas mãos de poucas pessoas.

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